segunda-feira, 31 de maio de 2010

Fragmentos

E lá estava ele. Ofegante, pés descalços, solitário. Tentando voltar aonde tudo havia começado. Ele tenta voltar para casa. Por dentro está tudo diferente. O amor era a única coisa que o deixava mais forte e mais fraco ao mesmo tempo.
Ele decide não se jogar do penhasco mais uma vez. Acho que passou a temer a altura e o que acontece quando se chega lá embaixo.

Do outro lado, ela. Pra ela, quem já se jogou do penhasco não deve ter medo de altura. Ela se joga novamente. Pés descalços, braços abertos, ofegante. Coração partido, porém aberto. Sem medo. Sem hesitar. Ela se jogou, pois descobriu que tanto poderia cair novamente quanto poderia criar asas. E que, no final, mesmo se se machucasse, valeria à pena...Valeria à pena porque na primeira vez ela pôde ver coisas maravilhosas. E ela não queria mais viver nesse mundo. Um mundo sem graça quando não se tem alguém por quem sofrer, por quem amar. E ela queria amar.

Ele não queria ficar só. E tem gente ficando com gente por medo da solidão. Ele não sabia se jogar. Não pela segunda vez!Ele se tornaria um daqueles que atravessam o penhasco se equilibrando numa corda.

Era o quadro mais belo. A pintura feita em acrílico e óleo - uma técnica mista. Pintura que falava por si só. Ela se jogando novamente - não era o que queria, era o que precisava. Ele partindo confuso - com o coração em pedaços. O problema em criar uma obra de arte é: ela sempre termina com um terceiro. Jamais permanece com o artista, seu criador. No entanto, a assinatura permanece lá, intacta, teimando em aparecer.

O que ele e ela não sabiam é que tudo tem três lados. O dele, o dela e do observador imparcial. Em sua versão ele é o mocinho, ela a vilã; na dela vice-versa. Do ponto de vista do observador não existe essa coisa de antagonismo, preto/branco, yin/yang... Existem seres humanos. Seres humanos que vacilam, cometem erros, tem receios e dúvidas.

Às vezes esperamos que alguém nos dê aquilo que não possuí. E ela percebeu que ele lhe dava tudo o que tinha. E ele descobriu que precisava da ausência para querer a presença. Tudo muito errado. Tudo tarde demais. E antes de partir, ela tinha se transformado na pessoa que ele queria. Todavia, pra ela, ele já não servia.

De repente penso “quem já se jogou do penhasco não deveria temer a altura”. Quando a vontade de voltar para trás for intensa, é só olhar para as cicatrizes, seguir em frente e se deixar sucumbir. Pule!

E ela se jogou e parou de correr atrás de dores passadas, momentos perdidos ou coisas que nunca foram dela. Meu desejo é que ele tivesse pulado atrás dela. Seria um salto na escuridão. Mas eles cuidariam um do outro na escuridão. E eu sei que ele a abraçaria na escuridão. Eles ficariam salvos, pois estariam juntos na escuridão. Eles sempre teriam um ao outro na escuridão.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Felicitate


"O que faz você feliz? A lua, a praia, o mar. Uma rua, passear. Um doce, uma dança. Um beijo ou goiabada com queijo?Afinal, o que faz você feliz?"

Para alguns ser feliz é sinônimo de realização profissional, para outros é encontrar um grande amor, igualmente, a soma dos dois. É claro, existem N caminhos para se encontrar o pote de ouro no fim do arco-íris, ainda que estas, com certeza, sejam as mais almejadas.

Sou uma dessas pessoas que acreditam que não há como ter algo que ‘sempre quis’, sem um grande amor. Não acredito no 'ter para ser'. Ora, adianta ter ‘tudo’ sem ter alguém para compartilhar? Não ter pra quem ligar ou alguém para abraçar ao chegar.

A felicidade é formada por pequenas ou grandes situações que fazem o coração sorrir. Simples assim! É quando nos sentimos completos com uma única pessoa. É o casal de velhinhos passeando na rua de mãos dadas. É a vontade de que o tempo pare quando estamos conversando com aquela amiga. É quando nenhum “eu te amo” mexe tanto conosco quanto o dos nossos pais. É chegar em casa e ter um cachorrinho pulando na gente. É quando nenhum momento nos deixa com tanto friozinho na barriga do que o vivido ao lado de quem amamos. É quando ouvimos um “muito obrigado por estar aqui”. É quando alguém nos liga só pra dizer que estava com saudades.

Felicidade vai além da casa mais bonita, do carro do ano e o corpo mais belo. Ou provar para seus amigos que tudo o que você tem é melhor. Consiste em estar bem consigo mesmo. Ouvimos pessoas dizendo por aí que o rompimento de um namoro foi a melhor coisa na sua vida. Mas, feliz mesmo é quem consegue falar sobre isso sem rancor, sem mágoa, sem se remoer. É não ser mesquinho ao ponto de falar mal de quem nos fez, em algum momento, a pessoa mais feliz do mundo. Felicidade é mais do que falar que está tudo bem, é ter a alma limpa e o coração aberto. E se você mantém o status da sua vida em branco não é um bom sinal.

Aliás, isso faz feliz, seguir adiante após ter tido o coração partido, se desvencilhar dos traumas deixados, olhar as cicatrizes e pensar nas coisas boas. Depois de toda decepção há sempre duas escolhas: ou fechamos o coração para sempre, ou o entregamos a outra pessoa. Essa segunda escolha acontece quando entendemos que o AMOR vale a pena.

No final todos os nossos amores e dores e flores e rancores, vão construindo uma ponte para chegarmos até um momento. E quando chegarmos estaremos preparados para ser feliz.

Essa enigmática e fascinante jornada chamada vida, é transitória. A vida é só um momento...e passa logo. E, no final, o que importa é o que aprendemos e nos tornamos com nossos erros. Sempre lembrando que existe um futuro inteiro pela frente para reparar tudo e fazer diferente. O que faz isso tudo por que passamos, sentimos, experimentamos, valer a pena, é acreditar que tudo acontece com um propósito. E por trás de cada propósito inexplicável existe a simples necessidade de encontrarmos a felicidade.

E a felicidade? É, sim, encontrar um grande amor.
Você pode ter tudo, mas sem amor, continua sendo um nada.
E eu? Eu fiquei mais feliz quando ele chegou e disse “Vamos unir nossas solidões”.