quarta-feira, 16 de junho de 2010

Garoto Solitário

Este texto é meio que uma continuação de Fragmentos, como se fosse Fragmentos Parte 2.


Ele rasteja na cama. São 5 horas da manhã. Ele cheira a bebidas e sexo barato. Se sente desvalorizado como se estivesse em liquidação. Abre os olhos e vê o teto cinza desbotado. As paredes pintadas de azul ao seu redor. Sente o clima frio. E, na solidão do seu quarto, naquele dia chuvoso, o coração dele chama por ela. Não consegue se levantar absorto em tantos pensamentos. Nada foi deixado pra ele além de promessas vazias. Ele pensa em todas as coisas que nunca teria de volta. Ele se dá conta de seus erros...sim, ele deveria ter se esforçado um pouco mais! Ele tem medo porque ela viu um lado dele que ninguém tinha visto. Ela o conhecia melhor que ele mesmo.

Ele se lembra de como ela ficava bonita entrelaçada no seu corpo. Ele sente falta do cheiro, do gosto, da pele, do suor, das risadas, do modo como ela se movia e do modo como sorria. Seu coração sofre com as lembranças dela. Apesar de ter jogado fora todos os pertences dela, não podia lutar contra o silêncio, o vazio, a ausência... A ausência ocupava seu tempo, ocupava sua cabeça demasiadamente. Fazia com que ele inventasse coisas. A ausência estava o levando à insanidade. Saudade... Ele olha para o lado esquerdo da cama e pensa "Cadê?". Então, a realidade: ela está morta. Era tarde demais.

Ela o ensinou quase tudo o que ele sabia. Ela o transformou de rascunho em arte final. Ele, egoísta, esqueceu de ajudá-la como ela o ajudou. Ela representava o seu mundo. E, naquele momento, ela era apenas uma memória embaçada. Ele a enxergava como um remédio para gripe, ele a odiava, mas sabia que precisava dela. Ele tinha esquecido de dizer o quanto ela era importante, ele esqueceu que quem ama deve cuidar.

Algumas pessoas se apaixonam e tocam as estrelas. Outras se apaixonam e encontram areias movediças. Ele pôde sentir os dois.

Ele se levanta. Calça os sapatos. Vai ao banheiro lavar o rosto. Olha para o espelho embaciado. O olhar em seu rosto é como a meia-noite na escuridão. Ele se arruma o melhor que pode. Coloca a máscara diária de "Estou bem", sorri e tenta parecer vivo. Porém, ele anda sozinho, só há espaço para ele e seu coração negro sobrecarregado. E ele jurou que nunca mais faria tudo o que fez por ela.

Ele está exatamente onde ela, um dia, imaginou. Ela sabe que beijos baratos e garotas fáceis não o fariam esquecê-la. Ele sabe que tentar esquecê-la dessa forma, seria tão útil como tentar colocar o pino de volta na granada. Tão fácil como chover no Nordeste. Mas era o melhor que ele podia fazer. Era o melhor que podia ter. E lá de cima ela pensa “longe de mim, você vai de mal a pior”.